Escassez de mão de obra chega na engenharia e montadoras lutam para atrair engenheiros de software

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Montadoras japonesas, antes focadas em engenharia mecânica, agora lutam para atrair engenheiros de software essenciais para o futuro dos veículos. A escassez de profissionais em TI ameaça a competitividade do Japão, com empresas como Subaru e Toyota adotando estratégias ousadas para conquistar talentos e garantir seu lugar no mercado automotivo global.

Um setor que sempre foi reconhecido pela força no recrutamento de engenheiros mecânicos e pela alta competitividade em termos de produção de veículos está, agora, enfrentando um novo e inesperado obstáculo: a escassez de engenheiros de software.

Essa situação está tomando proporções significativas à medida que a indústria automotiva se aproxima de uma nova era, onde as tecnologias digitais, como eletrificação de veículos e assistência ao motorista, estão se tornando cada vez mais essenciais.

E é justamente nesse cenário que as tradicionais montadoras japonesas, líderes globais da indústria, agora buscam desesperadamente engenheiros de software, um mercado que até pouco tempo atrás não parecia estar diretamente relacionado à indústria automotiva

O que está por trás dessa crise?

No mês de fevereiro, a Subaru, uma das montadoras mais conhecidas do Japão, inaugurou seu segundo escritório dedicado a engenheiros de software no coração de Tóquio, mais especificamente no famoso distrito de Shibuya.

Este local, que ocupa o 41º andar de um dos prédios mais icônicos da cidade, o Shibuya Scramble Square, não é apenas uma mudança de endereço: é uma estratégia agressiva para atrair os talentos de TI que estão disputando uma vaga no mercado global.

A batalha por engenheiros de software no Japão

Este escritório da Subaru tem capacidade para acomodar até 80 pessoas e oferece uma vista panorâmica de Tóquio e até do Monte Fuji, um atrativo adicional para os profissionais da área.

Além disso, foi projetado para atrair engenheiros especializados em inteligência artificial, essenciais para o desenvolvimento de sistemas automotivos modernos, como os que auxiliam motoristas.

“Shibuya se tornou uma referência para nós, pois engenheiros de talento se juntaram a nós um após o outro”, afirmou Eiji Shibata, executivo da Subaru responsável pelo desenvolvimento de veículos definidos por software (SDV).

O que chama atenção é que esse novo escritório não está isolado. Ele faz parte de um espaço de coworking da WeWork, um ambiente colaborativo que visa criar um networking com startups de tecnologia e outras empresas da região.

Isso não apenas facilita a interação com as novas empresas de mobilidade, como também oferece oportunidades de contratar engenheiros de software diretamente de outros setores da tecnologia.

A escassez de profissionais de TI no Japão

No entanto, o mercado de TI no Japão está longe de ser um mar de rosas. O país enfrenta uma carência alarmante de profissionais qualificados na área de software.

Segundo o Ministério da Economia, Comércio e Indústria do Japão, a demanda por engenheiros de TI nas montadoras japonesas aumentou significativamente, mas a oferta de profissionais qualificados está em queda.

Estima-se que em 2025 o Japão enfrentará uma escassez de cerca de 33 mil engenheiros de software, número que deve subir para 51 mil até 2030.

O impacto nas montadoras

Essa escassez de profissionais qualificados está afetando profundamente o desenvolvimento de veículos definidos por software, um campo no qual o Japão pretende se destacar.

O país tem como meta alcançar 30% de participação no mercado de veículos definidos por software até 2030.

No entanto, sem a mão de obra necessária para impulsionar essa revolução tecnológica, o objetivo parece distante.

As montadoras japonesas, em busca de soluções rápidas, começaram a repensar suas estratégias de recrutamento.

Elas estão buscando atrair engenheiros de software com habilidades em áreas como aprendizado de máquina, eletrificação de veículos, células de combustível a hidrogênio e unidades de controle eletrônico.

Porém, nem todas as empresas estão cientes de que o mercado de TI está cada vez mais competitivo, e muitas das grandes empresas automotivas ainda são vistas como menos atraentes para profissionais especializados.

O que falta para atrair os talentos?

James Kuffner, ex-executivo da Toyota e atual CEO da Woven by Toyota, subsidiária tecnológica da gigante automotiva, alertou que as montadoras japonesas têm ficado para trás em relação a seus concorrentes chineses e americanos.

Segundo Kuffner, o Japão tem uma quantidade consideravelmente menor de engenheiros de TI comparado com outros países, como os Estados Unidos e a China.

“No Japão, apenas 1,4 milhão de engenheiros de TI estavam ativos em 2024, enquanto os EUA tinham 4,5 milhões e a China, 3,5 milhões”, revelou Kuffner.

Além disso, o país ocupa apenas a 31ª posição no ranking global de salários para engenheiros de TI, o que faz com que esses profissionais prefiram trabalhar em empresas de outros países, onde as remunerações são mais atrativas.

Isso acaba dificultando a atração e retenção desses talentos cruciais para o setor automotivo.

Mudanças no perfil das contratações

As montadoras japonesas, como a Toyota e a Honda, começaram a adotar novas abordagens para atrair talentos.

A Honda, por exemplo, anunciou mudanças no seu sistema de gestão de pessoal, com foco na flexibilização de salários e condições de trabalho.

Além disso, a empresa também eliminou a idade obrigatória de aposentadoria para profissionais qualificados e aumentou a contratação internacional, especialmente na Índia e no Vietnã, onde há uma grande oferta de engenheiros de TI altamente qualificados.

A Toyota, por sua vez, também tem buscado profissionais em indústrias como a de games e outras empresas de tecnologia para suprir a falta de engenheiros especializados em software automotivo.

O futuro das montadoras japonesas

Apesar dos esforços das montadoras, ainda existe uma grande distância entre as necessidades do setor e a realidade atual.

A falta de reconhecimento das montadoras como empresas tecnológicas e o perfil tradicional da indústria, voltado para a engenharia mecânica, são barreiras que ainda precisam ser superadas.

Para que as montadoras japonesas alcancem suas metas de inovação, será necessário convencer os profissionais de TI a se juntarem a elas.

No entanto, não há uma fórmula mágica para vencer essa competição global.

Segundo Noriaki Yamamoto, executivo da Bizreach, plataforma de recrutamento especializada, as montadoras precisam ser mais claras sobre as vantagens de trabalhar nesse setor.

As empresas precisam mostrar aos profissionais que suas habilidades são fundamentais para a transformação digital da indústria automotiva.

O que vem pela frente?

Enquanto o Japão tenta encontrar soluções para sua falta de talentos em TI, o setor automotivo mundial está cada vez mais competitivo.

As montadoras precisam se adaptar rapidamente às novas demandas do mercado ou correrão o risco de perder sua posição como líderes globais.

A escassez de engenheiros de software não é um problema exclusivo do Japão, mas a urgência com que o país enfrenta essa questão pode ser um exemplo para outras indústrias e nações que se encontram na mesma situação.

As montadoras japonesas têm muito o que aprender com seus concorrentes globais e terão que acelerar suas transformações digitais se quiserem se manter relevantes.

A luta pela atração de engenheiros de software é apenas o começo de uma revolução ainda maior.

 

Fonte: CPF | Alisson Ficher

Link: https://clickpetroleoegas.com.br/escassez-de-mao-de-obra-chega-na-engenharia-e-montadoras-japonesas-agora-lutam-para-atrair-engenheiros-de-software/

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