Durante a viagem pelo Corredor Bioceânico, o pesquisador Edgar Aparecido da Costa, do Campus do Pantanal da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), identificou grande potencial de investimentos em diversas áreas e a possibilidade de o distrito de Alto Caracol, próximo a Porto Murtinho, se transformar em um hub logístico. Doutor em Geografia, ele desenvolve um estudo no Eixo de Economia voltado para agricultura familiar.
“Alto Caracol se mostrou como uma localidade com grande potencial para investimentos em silos, armazéns, postos de combustíveis, hotéis, restaurantes, lojas de artesanatos, dentre outros. Possui posição geográfica estratégica na rota bioceânica e pode funcionar como um hub logístico rodoviário com atração de mercadorias dos municípios de Caracol, Bela Vista, Antônio João e das estâncias e assentamentos do Paraguai, na fronteira com o Brasil”, disse Edgar Costa.
Por outro lado, o geógrafo também vê desafios para a agricultura familiar, entre eles, a manutenção dos jovens no meio rural. “A população rural está ficando muito velha, com reduzida força de trabalho para ser competitiva no mercado. É preciso pensar alternativas de geração de renda, acesso às informações, conectividade com o mundo urbano e com outros jovens camponeses. Tem-se que reforçar o sentimento de pertencimento ao rural e criar mecanismos de estimular as ruralidades de modo a elevar a autoestima do agricultor e seu reconhecimento”, explica.
Um dos pontos identificados pelos pesquisadores foi a sazonalidade do comércio de produtos agrícolas ao longo da rodovia. Várias bancas de agricultura familiar estavam fechadas porque só funcionam em épocas específicas e quando há excedente na produção.
A pandemia do coronavírus também prejudicou os comerciantes, reduzindo a procura. Um ponto fixo foi encontrado perto de Sidrolândia, onde são vendidos produtos do Assentamento Santa Mônica, como doces, pimenta, abóbora, queijo, manteiga e produtos artesanais. O levantamento preliminar mostrou ainda que, em alguns municípios, os produtos da agricultura familiar são destinados para feiras e outros estabelecimentos e não há pontos de vendas na rodovia.
Além disso, foi possível verificar o avanço do agronegócio sobre regiões da agricultura familiar no trajeto da Rota Bioceânica. Na região do Alto Caracol, por exemplo, houve uma redução expressiva na quantidade de pequenos produtores diante do avanço do milho e da soja.
Eixo História
O trajeto também foi realizado pelo pesquisador Eronildo Barbosa, responsável pelo Eixo de História do Projeto Corredor Bioceânico da UFMS. “Tivemos a oportunidade de conhecer uma parte dos pequenos comerciantes e assentados da reforma agrária, que precisam e vão participar do processo de riqueza que esse projeto vai gerar”, destaca.
De acordo com o pesquisador, o objetivo é prospectar oportunidades e conhecer as dificuldades dos atores econômicos mais vulneráveis no processo produtivo. Dessa forma, a expectativa é que o estudo contribua para elaboração de políticas públicas voltadas para esses grupos sociais.
“Encontramos pessoas que estão desconfiadas sobre a concretização do projeto e também aqueles que estão acreditando que a rota vai trazer progresso e desenvolvimento. Foi uma radiografia do instante, um passo importante para entender como está organizado o processo produtivo na região sudoeste e quais são as relações de produção”.
Os recursos que viabilizaram o Projeto Corredor Bioceânico da UFMS são oriundos de emenda parlamentar do deputado federal Vander Loubet (PT/MS). O projeto de pesquisa e extensão é coordenado pelo Prof. Dr. Erick Wilke, da Escola de Administração e Negócios (ESAN/UFMS). Também são realizados estudos nos Eixos de Economia, Logística, Turismo e Direito.
Paulo Fernandes, da Subcom, com informações da Assessoria de Comunicação do Projeto Corredor Bioceânico da UFMS
Fotos: Edgar Costa/UFMS